miércoles, enero 24, 2007

no hospital, amor e humor

Volto a este hogar segura de que só mesmo com amor e humor pra lidar com problemitas. Recupero-me de uma queda. Escada mau construída nos recônditos do Heliópolis. Fui atendita no Hospital Ipiranga. Em casa estaria mais segura. Mas como foi num domingo à noite, fui atendita rapidamente, sem fila de espera praticamente, por um médico jovem mas de olhar ancião que já está a ponto de partir.
E quando cai um avião...
Senhor Eduardo, meu pai, esteve internado no Hospital das Clínicas, diga-se um dos melhores de São Paulo ou do Brasil. Médicos excelentes, atenciosos, assistentes socias leito a leito, exames precisos, investigação médica exemplar. Mas claro, espera e demora. Os exames são feitos todos no mesmo dia, para averiguar até mesmo um dorzinha de cabeça. Eles investigam tudo, como diz minha mãe, até mesmo a "cutícula". A tardança é quase eterna e nos corredores filas e filas de camas. Seu Eduardo esperou quase 7 horas para um exame de sangue minucioso. Fora outros tantos para exames e consultas. Não dormi nesses dias de internação para ficar a seu lado, jazida numa cadeira de alumínio que encontrei num dos banheiros masculinos ( depois de ter andado por vários rinconcitos...) atenta às solicitações do papito.
O movimento é intenso às segundas e terças-feiras. Bem diferente aos sábados e domingos. Parece que as pessoas preferem ir ao médico no início da semana. Papito a cada instante me pergutava a que horas vamos para casa? Ainda falta, temos que fazer exames, talvez não voltemos para casa e o senhor fique aqui, papi. Respiro fundo. Depois disso: odisséia.
Cafunés, ombro. Na espera, conversávamos. Eu o distraía para que não olhasse outros enfermos chorando ou reclamando da demora. Em nehum momento Seu Eduardo reclamou ou molestou-se na fala. Seu olhar era de cansaço. Se me diziam que um exame estaria pronto às 14:00, eu dizia a meu pai às 16 horas, "por si acaso...". Fortalitia
As horas, a noite, o dia seguinte para mim não seriam um problema, mas vê-lo ali me deixava pensando na saúde pública, na merda que está isso aqui, ali, acolá. Se houvesse 10 Hospitais das Clínicas na cidade, se houve compromisso político, governamental, se... se... se... Mas não tem. Tem ombro e cafuné, qué? Quis. Ele fechava os olhos mas não dormia. Não havia maneira de fazê-lo pegar no sono. Com a cara branca da luz da enfermaria, ruído de gente indo e vindo... pensei que melhor seria se dormisse como em casa, de ladinho, encolhidinho, olhos cobertos, boina do "che" na cabeça. Pai, fique de lado. Mas pode ficar de lado? ( ele estava com uma medicação na veia) perguntava-me incrédulo. Cobri-o com lençol, cobertor. Sentiu-se bem "agora sim!". Pensei em cobrir os olhos e a cabeça, mas não havia nada ali, nem uma pequena toalha. Vasculhei suas coisas e encontrei um samba-canção, com o cheiro de casa, do amaciante, do sabão em pó que a mamita usa, pai... vou colocar em cima dos olhos para luz não incomodar. Em dois minutos, dormiu profundamente.
Depois da outra maratona no dia seguinte e dos pequenos transtornos, deitei minha cabeça por cima de sua mão, olhos úmidos, vermelhos, cansaço, preocupação...tive meu momento... Ele diz que tá tudo bem, preso político sofre mais. Ahhhh, só o Seu Eduardo para me fazer sorrir num momento assim. E no momento da alta, quando liberaram o papito, eu, ávida, levei-o ao banheiro feminino (estava menos congestionado) para trocar a roupa sem listras. Quando saimos, uns pacientes o olhavam e ele sorrindo disse "vim ver se tinha alguma mulher". Pelo menos fez dois pacientes sorrirem. E eu... muito feliz.°°