viernes, octubre 13, 2006

ZUZU ANGEL, o filme.

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Inesgotável foi a criatividade e inventividade dos métodos da tortura num Brasil marcado pela ditadura. A crueldade parece mesmo não ter limite. Dos corpos devorados pela terra-mãe, ou pelas nossas margens plácidas, pode-se ouvir algum eco? Dessas reverberações, algumas rebatem forte no peito, até perfurá-lo, dardejando contra o pulmão, asfixiado.

Frente à Iglesia de la Encarnación: corpos jazidos, estirados e ensangüentados... tendo como testemunhas os ventres que os geraram. Em terras guaranis de Stroessner muito se sabia do destino dos opositores. Amargas são as memórias latino-americanas. E nossa Zuzu Angel, mesmo diante de todas as provas circunstanciais, de toda a verdade ocultada, abafada, não tocou a face gélida de seu filho. Sabido era o fim, consumada a dor, mas sua batalha pelo desvendar do crime não cessou. As memórias doces, singelas... porque deixei você sozinho, meu filho, na praia, sozinho... Que dor estarrecedora, olhar perdido do filho que busca a mãe, a mãe que protege, que vê as conquistas, que torce pelas competições, agonizando por medo da derrota e depois, da perda.

Os ecos se materializaram, convertidos em arte sobre o tecido, em protesto vestido de dor e inconformismo. Os ecos gravados pela milícia, trespassaram as paredes e funcionaram como os pyragués[1] paraguaios, delatando toda e qualquer força opositora. Muitos terminaram suas lutas assim, estrada escura, luz forte refletida no retrovisor, momentos ligeiros cavalgando frente aos olhos, recordações póstumas. Esperança de que “amanhã vai ser outro dia”.


[1] Pyragué na língua guarani significa “delator”, era uma figura que no Paraguai, a mando do governo ditatorial, conseguia adentrar-se no cotidiano do cidadão, descobrindo quem era oposição, quem possuía dentro de suas casas a foice e o martelo.

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